A galinha…

Pois é… Os mais “cultos” deviam ter desenhado as linhas da lógica que conduziam a este horizonte, chato, violento, desinteressante. Deviam ter dado forma perceptível à geometria sábia que todos ansiávamos. Mas a maior parte, ao que tudo indica, andava também nos ovos de ouro da galinha. E, ao que parece, por ganância, matou-se a galinha. O que vem a seguir já é esmola emoldurada pelo quadro comunitário de apoio, para mantermos estruturalmente a coisa e a vergonha para os fiscais da comunidade não ser maior.
“A nada se tira…”, bem o escreveu Fernando Pessoa.
Mas este “nada “ deriva das nossas limitações intelectuais, que não conseguem ser tão abrangentes ao ponto de manipular e sintetizar o excesso homogéneo, previsível, brutalmente fastidioso. A vulgarização do importante e do determinante é, creio, a causa deste enfado que provoca o enjoo. Voltados para o umbigo, um traiçoeiro narcisismo, contraímos a presunção do dependente, que quando quis tirar a máscara, ela já não se soltava e assim continuou a vidinha desgraçada.
Temos, pois, o que merecemos. Este referendo sobre a IVG trouxe à evidência a balbúrdia que impera, para bem dos nossos pecados. Não somos um povo esclarecido. Somos “nada“ e por isso violentos. Somos um modelo acabado de hipocrisia, de fingimento, de mentira, de espertalhões, uma amálgama de finórios que querem tudo, não pagam e não têm medo de ninguém.
Nada… pois claro. E depois admiram-se com os 75 mil apanhados nos radares, com a sargento que é condenado, com a desfaçatez da menina Salgado, com apitos dourados e operações furacão tortuosas, com Odemiras e periferias… Enfim. Começamos a andar zangados e corre-se o risco do estado de graça terminar.
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« No céu vai uma nuvem, todos dizem “bem a vi”. Todos falam e murmuram, mas não olham para si.»
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A espreitar e a ler, se possível:


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