«Off-shores» e o milagre da multipicação
Segundo João Silvestre, do semanário Expresso, o Estado, com a anuência do ministro das Finanças, anda a largar dinheiro público, muito dinheiro público, derramando-o por dez «off-shores». Na mesma página, na coluna do lado, Luís Marques escreve que “O ministro das Finanças deve uma explicação que apele à nossa inteligência. Se as aplicações são frequentes, como disse, desde quando é que são frequentes? O que justifica a frequência? São só oportunidades de negócio ou trata-se de operações com entidades que usam «off-shores». Se assim for que entidades são essas?”.
Anda para aqui a classe média a liquefazer-se em endividamentos e cumprimentos fiscais para manter o nível e não perder a face, e o dinheiro a sair, assim, à pazada, atirado para um cesto sem fundo com a justificação de investimento. Se calhar António Guterres tinha razão quando afirmou que se deveria acabar com os «off-shores». Provavelmente e sobretudo por causa dos “capitais públicos” andarem “misturados com capitais de duvidosa proveniência”, coisa, aliás, que em nada deve incomodar os prospectores de condições paradisíacas, ao serviço do nosso Estado. Por ser um jogo muito arriscado - já no círculo do vício - é certo o que escreve Luís Marques: “aquilo que vale para um particular não pode ser o critério de investimentos do Estado”.
Por uma questão moral - o que, convenhamos, é mais ou menos a mesma coisa que defender as aves migratórias instaladas no estuário do Tejo, perto do putativo futuro aeroporto - devería haver maneira de se saber para onde está a ir o “capital público”. Não por razões elementares de contabilidades individuais e domésticas em papel pardo, mas antes para termos uma noção mínima do que nos aconteceu quando passarmos para baixo da linha de água. No fundo, em que é que nos pode interessar termos participações rentáveis lá fora, em sítios de seriedade duvidosa, se por sistema andamos quase todos à mingua aqui - excepto os tais 5% podres de ricos que se estão marimbando para a fauna que povoa esta terra.
Leia-se, pois, a entrevista de Henrique Granadeiro, e entenda-se o que os muito, mas mesmo muito ricos pensam da nossa trágica situação. E dizem-no como se não tivessem culpas no cartório.
Dói pois... dói mesmo, por serem vozes do outro mundo.
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