Uma nota…
… absolutamente reaccionária. Fará o quê?… talvez um mês que fui jantar a um restaurante num dos afluentes do caminho para Sintra, a convite de uns amigo, seduzidos com a recomendação de boa e farta comida. Porém, qual engodo. O que encontrámos foi uma espécie de cantina, a servir com indústria uma fauna de arrepiar, paradigma dos dias que correm, uma mistela de carácter a oscilar entre o ordinário, o imbecil e o estupidamente sobranceiro, aquilo que hoje são a maioria dos comensais eleitores e contribuintes, que gastam o dinheiro dos expedientes e dos golpes das horas livres em peitos de frango “ao chefe” e entradas de cocktail de marisco fornecido pelas traineiras nos palops.
Nunca me tinha acontecido tomar um banho de imersão nesta realidade tão forte, tão impressiva. Foi nesse momento que dei conta da dificuldade dos profissionais da política em amansarem com discursos esta fasquia média baixa, uma multidão que se atropela a botar opinião sobre tudo, desde o futebol à justiça, do desgraçadinho que esfaqueou a mulher ao programa sobre a infidelidade, que não fala mas berra, como se isso fosse uma expressão de afirmação da personalidade (bárbara, claro). Foi durante o mastigar apressado do bife que ruminei sobre o raio de gente formatada para a democracia, para o consumo, para o entretenimento, para a procriação, assim como que aves de aviário desenvolvidas à pressa e à custa de hormonas endrominadas tipo consumo excessivo e pouca capacidade de discernimento, um género de aproximação de ser humano perfeito para a nossa economia. Foi precisamente nesses 400 metros quadrados de restauração, atulhados de gente e de gritaria, com imensas altas cilindradas artilhadas estacionadas à porta, que descobri um país fantástico, tão manhoso quanto engenhoso, capaz de ludibriar a boa vontade do nosso estabelecido Instituto Nacional de Estatística. Foi, pois, aí, que resolvi peregrinar pelos altares que conheço, fazendo o caminho das pedras, pedindo a todas as almas que José Sócrates se mantenha no poder. Porque, mal ou bem, umas vezes mais para o social, outras a fugir-lhe o pé para o demagogo, não sem uma certa graça, embrulhando as verdades com as mentiras e vice-versa, com aquela sua entoação que lembra os contadores de fábulas infantis, consegue trazê-los confusos e com a agressividade numa medida que nos deixa dormir por enquanto com alguma tranquilidade, sem ser necessário atirar, por sistema, a polícia de choque para a rua. Foi também nesse momento que percebi qual a razão da dificuldade de Marques Mendes em se evidenciar no panorama da alternativa política. É que eles, os do restaurante, não têm medo dele e estão-se a marimbar para o líder laranja. Com Sócrates, porém, sabem que tudo é possível… já que os pasmou a audácia com que ameaçou implementar tantas medidas impopulares, ainda por cima, imagine-se, soltas por gente até então de reconhecida tolerância e da Esquerda respeitada.
Será assim, com este país mal amanhado, que vamos este ano descobrir o caminho marítimo para a Europa, usando certamente, no plano interno, de engenharias interpretativas.
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