Marketing's canhestros...
Escultura de Ron Mueck
... e alquimias desajeitadas.
A transmutação de José Sócrates e a disponibilidade de Louçã para ser primeiro-ministro e formar governo, em meu entender, são erros de palmatória dos dois líderes partidários. A partir destas recentes eleições, tanto um como outro, deviam ponderar mais as intervenções públicas. Sócrates não percebeu que o “castigo” eleitoral em pouco tem a ver com a sua comunicação pessoal. Loução, por sua vez, não traduziu correctamente a grande parte dos votos com que o BE foi presenteado. Creio que poucos quererão um Sócrates lamechas, assim como a maior parte dos votantes no BE desejarão que Louçã forme governo e aplique o que de facto lhe vai na cabeça.
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Por intuição, pegando num caso recente, poderemos arrematar que o sucesso de Obama foi proporcional ao estrago provocado por Bush. A democracia dá a possibilidade ao colectivo de criar equilíbrios e preencher vazios políticos.
Em Portugal, excluindo as presidenciais, vigora o princípio de que as eleições perdem-se e não se ganham, como alguns apregoam com insistência. Revejam-se casos passados e chegaremos a essa constatação. Há situações, por exemplo, em que não seria preciso sequer fazer campanha (permitindo, assim, aos cabeças de lista, embolsar para proveito próprio mais sobras dos dízimos presenteados pelos particulares, chafurdando em dinheiro vivo). Também em relação a certas sondagens, pode-se estabelecer que são cada vez mais um suporte de manipulação da informação, ao invés de instrumento científico. Por isso, revela-se crucial a necessidade de encarar com maturidade a definição das estratégias de comunicação, de maneira a sustentar com inteligência as lideranças, obrigando os “peritos” a fazerem um esforço de qualificação das suas sínteses, sustentando em argumentos confiáveis as propostas e opções, evitando aviar a Comunicação como quem vende peixe podre ao quilo, afastando de vez o modo de entender os eleitores como uma tribo que se manipula com conceitos infantis, por gente infantil. Ou então, dispensar os técnicos e seguir as intuições.
Sócrates não pode andar ao sabor dos alvitres de amadores (ou de técnicos a tempo parcial, mas com ambições políticas). A continuar assim, será gozado por quem o manipula e aumentará o seu estado ridículo. A continuar assim, é provável que se coloque de novo a necessidade de ponderar a ideia de que as eleições se perdem … para conforto dos seus alternativos adversários. Sócrates, tendo já demonstrado que gosta muito do Poder e do que este proporciona, não deve adulterar a sua personalidade, nem sequer exercitar mudanças profundas na dramaturgia a que nos habituou. Ressoará cada vez mais a falso e a representação baixará para um certo diletantismo em termos teatrais, longe do que se exige a um profissional da persuasão. Insistindo na transmudação, Sócrates, arguto, certamente cansado de arregimentar o pessoal e apagar fogos, deixará transparecer que já está farto e contrariado. E isso pode ser fatal.
Sócrates apresentou-se como “animal feroz”. Não pode, por isso,entrar com pele de cordeiro no tempo da maioria relativa. Ou será que também já está a fazer as malas?
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