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When you lose, don't lose the lesson

quarta-feira, julho 15, 2009

"que só de te sonhar ..."

Vai para uns tempos que ando para inserir uma nota simpática no blog Samarcanda, da autoria de Eugénia de Vasconcellos - também autora do blog "Mátria-minha" -, publicada a 21 de Maio. Como a referida nota é intemporal, fica agora, por nunca ser tarde, neste modesto blog, com um sincero agradecimento à autora destes dois livros.


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"Impossível Luz (signo em Rui Perdigão)"



"O relógio da catedral marca a meia hora depois das oito, vai soar, os pássaros sabem, agitam-se a antecipar o voo. Uma só badalada, curta e seca, e mesmo assim ecoa neste pátio público onde se rezou em árabe no mesmo local onde hoje as portas se abrem apenas diurnamente e à hora certa: intermitentes eucaristias, terços, baptizados e prodigiosos casamentos na era dos divórcios - que alguém queira casar-se à beira do fim do amor parece-me um assombro. As laranjas amargas caíram das laranjeiras; não há quem as colha, não há mel nos gomos. É perfeito entardecer aqui entre as paredes brancas, os telhados de quatro águas, as cegonhas quietas ao alto, o voo das andorinhas e os passos seculares que romperam o tempo. Tenho ao meu lado direito os que amei e morreram e ao meu lado esquerdo os que aqui viveram antes de mim. Um ramo da buganvília carregado de roxo do Senhor dos Passos aponta a porta nova. Desço. O sol desce. Há-de enterrar-se na noite dos nossos corpos e mastigar bem a solidão e a morte. Desço. Ando à procura dos edifícios, rostos familiares onde reconheça a cidade. Os novos refugiados deixam as enxergas dissimuladas nas ombreiras largas das casas institucionais, nas galerias ou atrás dos mais discretos dos bancos de jardim.
(...)
Hoje como sempre, como na hora de todas as mortes que atravessamos para chegar ao fim do dia, a luz. Que eu tenha sempre estes calcários passeios simultâneamente escurecidos e iluminados pelas flores caídas e esmagadas. As flores dos jacarandás: impossível luz."

Eugénia de Vasconcellos, Quinta-feira, 21 de Maio de 2009, in Samarcanda

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