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When you lose, don't lose the lesson

sexta-feira, abril 04, 2008

Um post para o Blasfémias (CAA)



Antes era para o “leitinho das criancinhas”. Quando as criancinhas começaram a comer coisas mais substanciais, passou a ser “para a acção política”, visto as crianças já estarem a ser lançadas para o “meio“. Esgotadas que estão as convicções, e o 25 de Abril contado aos netinhos como uma fábula no pântano, de homens bons que se esconderam nos troncos apodrecidos das árvores centenárias, e dos maus, que se tornaram grandes navegadores e predadores em águas pútridas, sendo que pouca gente acredita no altruísmo de quem quer ajudar os mais desfavorecidos, sem razão, pois, do pretexto e do argumento pedinte da “acção política”, passou-se, pragmaticamente, ao patamar do dinheiro, na sua utilidade pura e dura, em pós-globlazição e a coberto da estratégia da internacionalização. De há uns tempos para cá, ao que parece, o peditório vai directamente para contas pessoais no estrangeiro ou para cofres incrustados na parede, oferendas guardadas em nota e, nalguns casos ainda, em matéria-prima facilmente transaccionável.
Lá no fundo, as convicções do Dr. Júdice assentam na extrema-direita, reboliço político reactivo em que foi acompanhado por outros actuais destacados dirigentes do PPD/PSD. Se reflectirmos, nada é política, já que este país se resume a uns quantos escritórios de tráfico de influências, em particular de advocacia, que também se substituem, de vez em quando, nas empreitadas - e quanto trabalho sujo... - que muitos membros dos executivos e profissionais da política têm receio de executar. A única convicção é, na realidade, a capacidade de acumular dinheiro, participações e património. Pecúlios que umas vezes são para investir lá fora, (claro!) para vir cá dentro comprar coisas que, de forma combinada, se colocam à venda e ao desbarato.
Não há política.
Não há fronteiras entre o publico e o privado.
Tudo é "nosso".
Há, isso sim, carteiras de contactos. Ao que se pode acrescentar, carteiras de títulos, memos sobre as oportunidades em “off-shore“, neste caso seguindo, como é óbvio, o exemplo impoluto do nosso maravilhoso Estado (político). O “deixe t’ar q’eu conheço o tipo que pode resolver o assunto” é, provavelmente, a frase que mais fica gravada nesta democracia em estado permanente de escuta. Frase, aliás, que ecoa em todos os patamares da nossa sociedade, desde os mais poderosos aos mais formiguitas, estes, miméticos, vestindo a pose de gente importante, de telemóvel na orelha, de quem até conhece alguém com uma réstia de pequeníssimo poder, aproveitando todas as ocasiões para armar ao pingarelho, seja para mostrar que é expedito a comerciar e a enganar o próximo, seja para dar largas à esperteza saloia, seja para contraditar, já enfrascado, sobre futebol. São desvios de valores, que desviam também a ideia de realização pessoal. E quando se arranham umas línguas estrangeiras, então a “consultoria” ou a “oportunidade para ser útil”, de colarinho branco, readquire um interesse mais pujante para os coitados dos empresários que necessitam de uns “empurrõezinhos” das “pessoas certas” instaladas nas quintinhas do grande e do pequeno poder, nos caminhos sinuosos em que se move a papelada e os milhões dos contribuintes no nosso maravilhoso e generoso Estado.
Caro blogger CAA, encare o o Exmo. Sr. Dr. José Miguel Júdice como sendo apenas um pequeno fragmento da vida desta coisa, um trecho engraçado, muito pequenino, da tragicomédia ainda em palco. Ele, tal como tantos, são Portugal no seu esplendor. O que é triste é o ensandecimento colectivo.

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