Longe da politiquice…
… "lugares onde se pode respirar". Bárbara Guimarães, na sua passagem pela política, não foi feliz. No entanto, o seu programa televisivo é bastante recomendável e, creio, feito com imenso prazer. Deste último, apresentou-nos Filipa Leal. Escritora. Jovem. Portuense. Interessantíssima. Decidida.
Um excerto de A Cidade líquida e outras texturas:
«A cidade movia-se como um barco. Não. Talvez o chão se abrisse em algum lado. Não. Era a tontura. A despedida. Não. A cidade talvez fosse de água. Como sobreviver a uma cidade líquida?
(Eu tentava sustentar-me como um barco.)»
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E um poema dito pela própria, que é um encanto.
A Cidade esquecida
Ela disse: Sou uma cidade esquecida.
Ele disse: Sou um rio.
Ficaram em silêncio à janela
cada um à sua janela
olhando a sua cidade, o seu rio.
Ela disse: Não sou exactamente uma cidade.
Uma cidade é diferente de uma cidade
esquecida.
Ele disse: Sou um rio exacto.
Agora na varanda
cada um na sua varanda
pedindo: Um pouco de ar entre nós.
Ela disse: Escrevo palavras nos muros que pensam em ti.
Ele disse: Eu corro.
De telefone preso entre o rosto e o ombro
para que ao menos se libertassem as mãos
cada um com as suas mãos libertas.
Ela temeu o adeus, disse: Sou uma cidade esquecida.
Ele riu.
In A Cidade Líquida e outras texturas, de Filipa Leal. Ed. Deriva
Etiquetas: Poesia e Artes
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