Vida das Coisas

… e os caminhos das pedras. «Se um extraterrestre nos visitasse e lesse ou ouvisse o editorialismo e os comentários políticos na comunicação social dita de referência, não acreditaria que a grande maioria da população deste país é de esquerda, a julgar pelos resultados das últimas eleições legislativas». O escrito é do Prof. Boaventura Santos ( ) e poderá servir de pretexto para reflectir sobre a situação. Nas últimas eleições legislativas creio que foi o Dr. António Barreto, num artigo no jornal o Público, que recomendou vivamente a leitura dos Programas eleitorais. A maior parte dos actuais críticos da actuação do Governo, sobretudo nos aspectos mais descaradamente liberais, devia no mínimo ter feito uma leitura diagonal das propostas. Teria assim, decerto, descortinado diferenças substanciais no pensamento até então vigente no seio da organização partidária designada de Partido Socialista Português - aliás, diferenças que já se vinham a notar desde os Estados Gerais de António Guterres e que tiveram, provavelmente, as suas primeiras sementes na Frente Republicana e Socialista, bem como nos apoios às candidaturas do General Ramalho Eanes.
A conciliação entre o liberalismo da “esquerda”, por exemplo aquele a que o Dr. Pacheco Pereira se dedicou depois de abandonar o marxismo, e o liberalismo de “direita”, estimulado pelo Dr. Lucas Pires, podem estar a ser repensados na sua actualidade, reorganizando a direita e a esquerda não “conservadoras”, com efeitos a breve trecho, tendo em vista não as próximas eleições - o que poderá oferecer uma margem de erro e de disparate - mas as seguintes, com as forças reajustadas - ou refundadas -, incluindo o próprio partido socialista formatado pelo novo exercício de poder, com o marxismo, leninismo, estalinismo, maoismo já atenuados nas articulações intelectuais e nos modos de acção, fora e dentro do perímetro do aparelho.

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