Pintar, escrever e andar por aí
“Agora a nossa grande esperança é o sermos expulsos do inferno…”Cruzeiro Seixas
Para não ficar a cismar nas palavras do presidente do Eurogrupo, o senhor Jean-Claude Juncker, a alertar para os riscos duma crise social, resultante do aumento perturbante do desemprego, a apontar para 9,9% em 2009 e 11,5% em 2010 na zona euro, ou ainda para não encaracolar a tentar arranjar desculpas para a “Maizena” de mau gosto saída da boca imprudente do ministro Pinho, ou não ficar confundido com as declarações indecorosas do Exmo. Sr. Dr. Dias Loureiro, saltei para um texto agradável do José Manuel dos Santos, sobre uma tarde passada com Cruzeiro Seixas, "homem que pinta e que escreve", como ele próprio se define. O texto não é uma doçaria e está longe do escrever do Zé Manel, mas lê-se bem. Fica o link e um destaque.
Todas as manhãs, senta-se à secretária para escrever, ler e desenhar. Ouve música, lembra, pensa, imagina, ama, sonha. Conversa com os amigos. E dorme a sesta. Às vezes, enfurece-se, indigna-se, protesta, mas já só com o que vale a pena. Aos 88 anos, os seus dias estão ainda cheios de tudo o que faz a vida livre e o homem vivo.“Quanto mais vejo à minha volta pessoas triunfantes e realizadas, mais forte é a minha tentação de ser apenas um falhado.”
(...)
As suas palavras são ágeis e irónicas. Chegamos ao restaurante e olhamos o mar enorme, instável e, nessa hora, de um azul sem luz. Há sal no ar e, daí a pouco, peixe na mesa. O apetite abre-se e a conversa corre. Falamos de Cesariny, que ele conheceu com 15 anos, na Escola António Arroio. Esse Cesariny ainda não era, mas já anunciava, o Cesariny em que se tornou (há cento e muitas cartas dele que esperam publicação). Falamos da amizade e das zangas (terríveis, históricas!). Falamos de António Maria Lisboa, Luís Pacheco, Alexandre O'Neill ("pouco poeta", segundo ele e Cesariny). Falamos de Vieira da Silva, Paula Rego, António Areal, Mário Botas. E falamos dele mesmo, da sua vida aventurosa: as dificuldades, África, a Galeria São Mamede, os trabalhos, os dias, os amores, as aversões. E dizemos mal, muito mal, de um certo Portugal.
José Manuel dos Santos, in Expresso online
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