São mais as nozes que as vozes
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Uma formiga invisível como eu, não tem necessidade de ler de fio a pavio o Orçamento de Estado para 2008. E mesmo que o fizesse, tendo em conta as minhas qualificações, certamente que não enxergaria o alcance de certas partes, por exemplo, aquelas que dizem respeito ao investimento público ou as que se referem a contas de merceeiro elementares no que toca a deves e haveres sectoriais ou dispêndios e proventos que vão alimentar a monstruosidade para prosseguir com as grandes linhas de rumo.
Economizando na literatura, vou lendo assim as coisas breves que outros escrevem e depois, caso se justifique, verifico no OE online. Neste dia que passou - no passado, portanto -, guardei um post com piada de Vitor Reis, no Quarta República, sobre a discussão no Parlamento, que reproduzo.
Um debate parlamentar sobre o orçamento de estado foi mimetizado por uma palavra: passado.
O PS falou do passado.
O PSD ficou preso ao passado.
O resto da oposição falou da discussão a que assistiu... sobre o passado.
Das outras questões relevantes que mexem com a nossa vida, pouco ouvimos, por causa da importância dada à discussão... sobre o passado.
Há uma lição que o PSD tem a obrigação de tirar do que se passou neste debate no Parlamento: não se pode querer lançar um "novo ciclo", fazendo reaparecer um velho figurante.
Pedro Santana Lopes, para o bem e para o mal, é a pessoa errada, no momento errado e no sítio errado, para ajudar Luis Filipe Menezes e o PSD.
A sua presença é suficiente para que a discussão descambe para futilidades e inutilidades e que a mensagem do PSD se fique por umas justificações sobre o passado.
Será que conseguem tirar consequências desta lição?
Vitor Reis, in Quarta República
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Em Zero de Conduta, uma nota de Pedro Sales, que também nos elucida sobre esta coisa das cenas políticas orquestradas, que gastam o tempo destinado aos debates fundamentados e de qualidade.
Santana Lopes andou mais de uma semana a anunciar que se estava a preparar para a reedição dos seus debates com José Sócrates. Ontem, na TSF, falava da abertura de um “novo ciclo político” comparável ao de Cavaco Silva. A imprensa foi na onda. Os jornais da manhã anunciavam a coisa em tons épicos. A Sic Notícias fez um separador para a ocasião. O espectáculo estava montado, as galerias cheias, a Assembleia silenciosa. Só se esqueceram que não basta ter um actor para ter filme. É preciso que ele conheça o papel. Santana foi igual a Santana. Um flop. Tinha cinco minutos para questionar o primeiro-ministro. Perdeu-se a falar do seu tema preferido. Ele próprio. Nos escassos segundos que deixou para falar do Orçamento ninguém percebeu do que é que estava a falar. Ainda inventou uma qualquer figura regimental para tentar um remake. Outra vez o mesmo filme. Penoso e vazio.
Pedro Sales, in Zero de Conduta
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Deste primeiro dia, em consequência, pode-se concluir que o Dr. Santana Lopes reabilitado ainda terá de passar mais uns tempos a pedir desculpa ao povo da direita, visto já ter evidenciado, penosa e dramaticamente, o que não pode dar ao povo do centro esquerda.
Assim sendo, registo o último parágrafo de esperança e de confiança, um bom naco de prosa, que resume as ideias centrais deste OE, cuja execução evitará certamente a ruptura social e promoverá, também e certamente, o crescimento com efeitos concretos na vida do povo aflitíssimo, pois claro.
A ambição do Governo é um País com mais oportunidades para todos. Sem demagogia, antes com rigor, disciplina, trabalho, com reformas nos pontos críticos e com efeitos sustentáveis. Não queremos olhar para o passado, deixamos isso a quem nada mais tem a oferecer senão recauchutar os protagonistas do seu próprio insucesso. Queremos olhar para o futuro, porque é aí que se joga a batalha da qualificação, do crescimento e da equidade. E estou confiante que a venceremos. Porque confio em Portugal. Porque confio nos portugueses.
Intervenção do Primeiro-Ministro no debate do OE para 2008 na Assembleia da República
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Etiquetas: OE 2008
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